Diogo Souza

Escritor e jornalista
"Agora que saltam os gatos buscando as sobras, você mia a triste canção. Agora que você ficou sem palavras, compara, compara, com tanta paixão"  (No me compares, de Alejandro Sanz)

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Finalmente quando eu sentia que estávamos prontos para dar mais um passo em direção ao mesmo destino; logo quando te sentia andando lado a lado comigo, você escuta aquela canção que te abate e te leva pra longe mim e perto do seu passado.  Nossos projetos estão na mesa, minhas expectativas quase derrubam meu muro das lamentações antes da hora, mas algo me para. É seu olhar nostálgico recordando de quando você e ele faziam planos semelhantes e ele te deixou pouco depois.
Te vejo mergulhar em silêncio na contemplação, tentando mirar o horizonte à nossa frente, mas se apegando ao que já ficou para trás. Você começa a falar dele e de suas histórias, você ainda nos compara com euforia e desilusão. Eu sou como ele, às vezes falo como ele, ando como ele, acerto como ele, erro como ele... Você volta ao passado e eu não posso te trazer de volta.  Eu apenas paro e suspiro, porque sei que se você voltar desse devaneio, te terei para sempre, mas se você decidir ficar, então eu seguirei sozinho na mesma direção de sempre.
Está tudo escrito em seu olhar, mas eu não consigo ler nada enquanto sua dúvida inquieta a minha alma. Seus dedos se apertam nas suas mãos, agora eu sinto que deveria te agarrar e te trazer de volta, mas o que posso fazer? Sua dúvida me imobiliza, eu simplesmente não sei reagir. Só me resta esperar até seu olhar reencontrar o meu aqui. Mas eu não sei esperar e talvez me apresse e me engane, pois meus sentimentos são desastrados mesmo. Há uma possibilidade que me entristece só de pensar que é a de te perder para uma lembrança. Talvez eu nunca o tenha superado, talvez eu seja um corredor por onde você apenas tenha passado para desviar dele, mas agora quer reencontrá-lo. Talvez o amor de toda a minha alma que eu te dei não seja o suficiente para cobrir o rombo que ele fez em seu coração, talvez eu tenha me iludido todo esse tempo a agora talvez eu me vire e vá embora antes da hora.
Se eu pudesse, eu apagaria cada lembrança feroz e dolorosa que te enchem de medo e te fazem desacreditar o futuro agora, mesmo eu não sendo ele. Se eu pudesse, te abraçaria e não te soltaria nunca mais, mesmo não tendo o abraço como o dele. Se eu pudesse, seria mais como ele e não me importaria tanto com você, mas eu te amo demais para isso. Por favor, apenas me diga algo que esclareça se é, ou não, a hora de eu ir partir, pois o trem está saindo e não posso te esperar para sempre. Decida se quer escrever uma história nova comigo ou retomar um final triste com ele.


16 de setembro de 2015


Publicado originalmente em 20 de julho de 2014

Minha patroa estava bem diferente do que costumava ser, pois antes se arrumava, se emperuava e mandava preparar o carro para passeios com as amigas. Hoje tem saído de casa descabelada, de cara lavada, com roupas sem cor, chinelos de dedo e cara emburrada. Hoje me pediu para levá-la a maior ponte da cidade porque queria olhar a foz do rio. Fiquei com medo de estar querendo se matar e tentei convencê-la a não ir, já que estava nublado e parecia que ia chover, mas ela estava realmente decidida e me fez pegar o carro e acompanhá-la.

Lá em cima, depois de um tempo fumando e olhando o encontro do rio com mar que acontecia poucos quilômetros dali, ela sacou um lenço de papel do bolso do casaco, cuspiu e envolveu seu cigarro nele e o apagou. Depois jogou o embrulho nojento do alto da ponte.

“Não me olhe com essa cara, Poseidon. Joguei um cigarrinho só... e essa cidade que joga todo seu esgoto em você? Você nem diz nada, né? Fica na sua, irmão.”

Com quem ela falava? Quem diabo era esse Poseidon? Seria outra crise nervosa? Depois, ela me falou que era o deus grego das águas, acho que o marido de Iemanjá.

O fato era que minha patroa estava num dia difícil. O motivo? Ela acordou e decidiu que este seria um dia difícil, mais um em sua biografia. Havia muito trabalho com o prazo em cima, mas ela nem se demonstrava preocupada e dizia que precisava sair, caminhar e espairecer para espantar a falta de disposição.

Acho que isso não estava funcionando, pois já havíamos rodado meia cidade nesses últimos dias e nada de ela “despertar para a vida”. Muito pelo contrário, quando soube que o marido já estava com outra – e esta uma jovem loira, peituda, bunduda e pernuda – se abateu muito, talvez porque isto significasse o fim oficial de suas últimas expectativas e ilusões sobre uma possível reconciliação.

No entanto, naquele momento, depois de longas semanas tenebrosas, eu a vi sorrir pela primeira vez. No alto da ponte mais alta da cidade, sobre a foz do maior rio que por lá passava, ela olhou o balanço das águas agitadas pela maré e sorriu. Sorriu primeiro apenas com os lábios finos e ressecados, depois sorriu por inteiro, de corpo e alma, entrando numa inexplicável crise de riso.

“Perdão, mas do que a senhora ri?”

“Zeca, já pensou se uma baleia surgisse aqui no rio?”

“Uma baleia, senhora? Num rio?!”

“É, Zeca, aqueles bichos gordos e enormes que nadam pelos mares cantando suas infindáveis canções de amor e de ninar. Quer dizer, vai saber, né?  Talvez elas tenham até canções populares – OS HITS DA TEMPORADA DE REPRODUÇÃO – que falam de carros, vadias, bebidas e ostentação. Não... não mesmo. As baleias não são assim, não são tão vazias quanto os humanos. Aliás, o vazio dos homens é do tamanho de uma baleia.”

“Nem todos são assim.”

“As baleias têm coração, e como tem! Você sabia que o coração de uma baleia-azul pode pesar 600 Kg? É o maior coração entre os seres vivos. Mas os humanos não se importam muito com isso, muito menos os machos. Talvez por inveja, o pênis de uma baleia cinzenta mede aproximadamente 3 metros!”

“Do que a senhora está falando?”

“DE BALEIAS, seu lerdo! Já pensou se as baleias voassem?”

“Hein?”

“E quando uma, cansada de voar, mergulhasse de volta pra água e criasse uma onda tão grande que sacudisse as canoas e barcos ali? E, se depois, batesse a enorme cauda perto dos barcos dos pescadores até fazê-los recolherem suas redes da morte e irem embora? Essas baleias são demais.”

Ela continuava a rir das imagens e situações que lhe surgiam na mente. A princípio, pensei que estivesse ficando louca de vez ou que tivesse trocado de cigarro de novo, mas depois percebi que ela estava apenas procurando um novo jeito de olhar as coisas. Não sei como explicar, é como se estivesse procurando olhar a vida de uma forma diferente, procurando uma paisagem que lhe parecesse mais bonita e mais feliz. Criando um novo mundo capaz de oferecer os estímulos positivos de que tanto precisa neste momento.

E ela tem razão, essas baleias são demais.

Diogo Souza, em 11 de julho de 2014


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O seu cabelo meio pro lado
O jeito como anda que mais parece dança
Os olhos negros me penetrando bem fundo
Olhos perdidos olhando o nada e pensando em tudo
Seu tique nervoso no canto dos lábios
Ah, esses lábios de riso fácil...
O sabor das estrelas no céu da sua boca
E o gosto de café nos seus beijos
Sua mania de achar tudo entediante
O modo on sempre ativado, você é louco
Sua sede de ir além, mesmo quando todos já pararam
Seus sonhos de mudar o mundo ou destruí-lo
Você sabe do que eu estou falando (Foda-se)
Você é coerência em meio a minha loucura
Você é insanidade, é razão
Você é a rima dos meus desenhos


Diogo Souza,
25 de agosto de 15


 “Lo siento, nunca te supe escuchar cuando más lo querías,
Perdóname, no te quise lastima con lo que te hacía.
Te amo.”
(Thalia – Gracias)

Talvez pudéssemos seguir seu plano e tentar outra vez, mas você deve concordar comigo que, depois de tantas tentativas frustradas, é melhor guardar nossas energias para outras histórias, outros personagens. Eu sei que é duro chegar a esse ponto, no entanto é necessário. O que ganhamos todo esse tempo? E o que perdemos? Não que a vida seja baseada apenas em perdas/ganhos, mas é inegável que essa nossa balança sempre esteve muito desigual. Nunca estivemos 100% um para outro, pelo menos não ao mesmo tempo; quando eu te quis, você não me quis; quando você me quis, eu não quis.  
E olha que não quero falar dos estragos, dos conflitos e das lágrimas que derramamos. Então para quê remexer isso agora? Eu sei, o que sentimos foi e é forte e, mesmo depois de todos esses anos, não parece ter mudado muita coisa. Mas (sempre a adversativa), nunca fomos o encaixe perfeito, estávamos sempre tentando forçar o outro a se encaixar num padrão. Fomos o pior inimigo um do outro. Tentamos várias vezes e fracassamos vergonhosamente em todas elas. Então, repito, para quê remexer isso agora?
Eu te amei inteiramente, sem medidas e até mesmo sem razão. Isso é inapagável. Obrigado pelos sorrisos, pelos sonhos de noites daquele verão que nunca chegou. Obrigado por me amar, por confiar e ter ficado comigo quando precisei. Obrigado por ter me deixado te libertar, obrigado por me dar a liberdade que eu não conhecia, por tudo o que me fez e também pelo que não me fez.
Perdão pelas vezes que te fiz chorar, da vez que te deixei esperar e da que te disse que te odiava. Perdoe-me pelas poesias rasgadas, nunca consegui reescrevê-las. Pelas vezes que deixei de te ouvir para ouvir os outros, por ter te deixado só quando precisava do meu abraço. Prometo que nunca te esquecerei, que estará sempre num lugar especial do meu coração e te apoiarei quando precisar. Mas não me peça para começar de novo, os sinais já foram dados e já está vermelho pra gente agora. É o momento de seguirmos nossos caminhos, sozinhos.
Adeus.

Diogo Souza
16 de agosto de 2015, às 19:00