Diogo Souza

Escritor e jornalista

Eu não iria postar nada hoje, mas resolvi repostar este texto que publiquei aqui no blog no dia 11 de novembro de 2013 porque eu gosto dele e na época eu não divulguei como deveria.
Abaixo está o áudio da música que eu ouvia enquanto escrevia, Bad Day, de Daniel Powter (e sim, é a música de abertura do filme Alvin e os esquilos).
Leia, comenta e compartilha. :)

De novo

 

Você vai em frente, apenas em frente e sem nenhum destino definido. O seu olhar está vago, quando você liga o som e ouve uma canção tristonha. Não se sente bem, mas também não se sente mal. Quer apenas ser compreendido e ser deixado sozinho, prefere se poupar dos outros e de suas frases prontas.

Onde está aquele abraço inesperado que vale mais que qualquer clichê?

O tempo está fechado, você tem andado apressado e pensando somente num depois porque o agora vai mal e o hoje não está ajudando (de novo). Os seus planos poderiam mudar o mundo, mas você não entende porque não.

Você ouve aquela canção tristonha e não se sente bem, mas também não se sente mal. Quer apenas um tempo só seu para se recuperar e não quer que ninguém te veja para baixo.

Muitos te disseram não e você acabou esquecendo de dizer sim a si mesmo. O seu céu ainda está nublado, é um dia tão triste, eu sei. Talvez porque você acaba esquecendo de si mesmo em nome de inúmeras outras coisas. Você sonha para si e acaba realizando para outros.

Você até jurou a si mesmo, naquela noite de Lua cheia, que jamais iria guardar algo de ruim. Mas tudo tem voltado pra você, como num acumulado. Um peso que você não está aguentando segurar.

Agora você está aí de novo, tão calado. Eu até gostaria de ir aí e te oferecer meu ombro amigo, mas sei que você está num dia tão triste, ouvindo sua canção tristonha e que vai se recompor.

"Ah meu amigo, se eu dissesse tudo o que eu tenho visto... tudo que tenho sentido."

“É, e você nunca me diz.”

Do texto publicado em 10/11/13, às 22:56



Eu sou o seu servo
Seu apoio e ombro amigo
Que sonha por nós dois
E te dá a mão no seu primeiro passo.

Eu sou um bobo
Tirando flores do casaco
Exagerando nas caretas
Só pra te fazer sorrir.

Eu sou o mesmo
E não importa o tempo
Te quero e quero mais perto
Quando sentir que você precisa.

Mas se eu ficar pra baixo
Apenas me aperte num abraço.
Me faça sentir eterno
Cada vez que me der um beijo.

Eu sou um bobo
Olhando o céu e te prometendo estrelas
Dizendo que a magia existe
E está dentro de você.

Eu sou o mesmo
E vou buscar as respostas
Para todas as suas dúvidas
E oferecer mais uma eternidade de felicidade.
Porque você tem essa capacidade
De me fazer feliz com tão pouco
E me deixar louco ao me sentir...
Sentir eterno.




P.S.: Este poema foi iniciado no começo de 2012 e, em 2014, o reencontrei e finalmente concluí.
AMANHÃ EU ESCREVO


Acho que vou escrever: mesa arrumada, cadeira posicionada, editor de texto iniciado, mas olha que absurdo: nem todas as canetas estão viradas para baixo na lapiseira.
Agora sim, minhas canetas estão organizadas e vamos escrever! Ah, minha mãe chamando para o jantar.
Pronto, jantei e agora vou escrever, mas está fazendo um calor desgraçado nesse quarto, vou abrir a janela. Caramba, como a Lua está linda hoje, parece até que está sorrindo para mim. Vou até por uma musiquinha, mas espera! Eu esqueci de ouvir as músicas que vazaram do Michael Jackson: vou ouvir agora. Caramba, essa música é muito boa, vou até pesquisar a letra.
Maybe the walls will tumble
And sun may refuse to shine
When I say, I love you
Baby, you've gotta know
(I don't know)
That's for all time.

 Mas que horas são?! Puts, já estava esquecendo... É hora de assistir Mythbusters na TV.
Ah, não!
Escreva, Diogo!
Pronto vou escrever. Mas quem curtiu minha foto no Facebook? Ah não, eu não quero mudar a cor do meu face.
Escreva, Diogo!
Vamos lá, calma, concentração, dedos no teclado e... Opa, alguém chamando no Whatsapp.

- Escreva, Diogo.
- Cala boca consciência! Eu já vou.

Tudo bem, agora sim, agora vai. Em posição, dedos impacientes deslizando no teclado outra vez, o cursor pisca impacientemente e a página em branco me olha com um ar desafiador.
Mas o que eu ia escrever mesmo? Pensa, cara. Pensa!
Cara, pior que já tô com sono.
Amanhã eu escrevo.


Quarenta e cinco metros o separam do chão, do gran finale. Há quanto tempo estava às voltas com aquela hipótese? Tão tenebrosa que, só de ser (in)conscientemente cogitada, levava-o para debaixo do chuveiro, da água fria e na tentativa insana de afogar as angústias, ou apenas sufocá-las por alguns momentos.

A água que corria o corpo, inundava os olhos secos e desmanchava os resquícios da dignidade que forjava para si. Água que anestesiava, causava tonturas, pontadas. Os ombros curvados, olhos perdidos, cabeça pesada, e a mente insuportavelmente pesada. Peso demais.

Saía do banho e, ainda molhado e despido de emoções, jogava-se na cama, a maldita e imensa cama vazia. Sentia vazio. Sentia-se vazio. Sentia frio. Sentia-se frio. Sentia-se meio morto, não meio vivo, apenas meio morto. Não sentia mais nada. Morria por dentro.

Nos últimos 68 dias, ao entardecer, subira ao terraço do prédio público onde trabalhava e ali encarava o pôr do sol. Não achava o crepúsculo bonito, achava-o triste, somente. Fim do expediente, fim do dia, fim da luz, fim da vida.

O pôr do sol é uma morte que se repete diariamente, o Sol morre diante de nós durante 365 dias ao ano, às vezes 366. Porém, não nos damos conta de sua partida, não nos importamos. O Sol morre ali: sozinho, aos poucos, esquecido.

Quarenta e cinco metros o separam de seu próprio pôr do sol. Frio, sem luz, sozinho, vazio, lento. Já são 68 dias de indecisão. Olha o chão, espera o Sol morrer mais uma vez.

Talvez amanhã finalmente se decidisse. Mas, (in)conscientemente, talvez ainda se agarrasse à certeza de que o Sol renasce todos os dias. Talvez um dia renasça também. Talvez um dia se jogue.

Talvez amanhã.

Diogo Souza,
18 de março de 2014 23h:55min