Quando desci as escadas de sua casa e voltei pra rua senti um misto de alegria e desolação. De repente, as correntes não existiam mais e, por outro lado, era hora de seguir em frente e, talvez o mais complicado, encontrar uma nova direção. Parado, olhei para o fim da longa rua, estava claro que o horizonte estava lá, eu que nunca o levei a sério a ponto de segui-lo, estava tão cômodo em ter esta rua como ponto de encontro e refúgio que acabei esquecendo que a vida nos dá infinitas oportunidades de trilhas.
Uma leve chuva começou a cair e
o vento frio tocou meu rosto sem muita delicadeza. Sei que a saudade faz
estragos e que ela vai me torturar em dias melancólicos, mas quando tudo se
acaba só há uma solução: começar de novo. Atrás de mim deixo a desilusão e a
mágoa, que fique tudo para trás e que a dor diminua e um dia eu ainda possa
pensar nisso como um lembrança especial, como tantas outras que tenho comigo.
Um homem apressado esbarrou em
mim, saí do meio da calçada e continuei com o olhar direcionado ao fim da rua,
mas com o foco mais perto, percebendo os chuviscos que caíam de forma dançante
bem à frente da ponta do meu nariz.
Sei que você está aí atrás,
olhando pela cortina e se perguntando o que ainda faço parado em frente à sua casa.
Acho que estou deixando aqui o que precisa ser deixado, estou descarregando as
emoções desnecessárias e tentando dizer ao meu coração que isso acabou faz
tempo e que é hora de seguir em frente.
Parecia distante, mas era
perto, uma senhorinha falava comigo bem baixinho:
“Está com algum problema, moço?”
Depois de algum esforço voltei
a realidade e olhei a doce velhinha que segurava o guarda-chuva sobre minha
cabeça me protegendo da chuva.
“O quê?” perguntei ainda
atordoado.
“Você está se sentindo bem,
rapaz? Está há um tempão aí parado na chuva.”
“Ah sim... Sim, estou me
sentindo bem. Estou me sentindo muito bem. Obrigado.”
“Que bom, mas não fique tão
pensativo assim na rua, é perigoso.”
Eu ri para ela e me ofereci
para levar suas sacolas, ela negou, mas aceitou que eu levasse seu
guarda-chuva, pois me disse que manter o braço erguido doía. A casa dela era do
outro lado, justamente no começo da rua. No caminho ela me contou sobre como
gostava daquele lugar e a saudade que tinha dos netos. Ao chegarmos em seu portão,
nos despedimos e finalmente fui embora dali, estranhamente feliz e aliviado.
Diogo Souza, 18 de julho de 2014